FALA QUE EU TE ESCUTO - A ELIMINAÇÃO

Parafraseando León Tólstoi, eu começaria dizendo: "Toda seleção campeã do mundo é muito parecida... Cada uma que perde, perde da sua própria maneira"! Cumpre, então, investigar qual foi o "brazilian way" de perder a Copa do Mundo de 2010... Vamos tentar!

Preliminarmente, digo uma coisa que eu defendo há anos: a Seleção Brasileira vive uma entresafra de craques! Não dá pra comparar (nem de longe) com os elencos, por exemplo, de 2002 e de 2006. Vejamos: Robinho era reserva de um time de segunda na Inglaterra e veio pro Brasil pra voltar a jogar; Fabuloso (de quem sou fã) é bom de bola, mas está a anos-luz de ser um Fenômeno ou um Romário; Kaká é craque, mas, mesmo já tendo sido o melhor do mundo, sempre se consagrou sendo o "7" e não o "10"; a nossa zaga é a mesma desde 2002; até o dia da convocação a gente nem tinha lateral esquerdo etc etc etc...

Apresentada essa atenuante para o Dunga, eu entendo que ele cometeu 03 (três) erros evidentes, gravíssimos e (quiçá) indiscutíveis:

a) Convocou mal - Preferiu chamar jogadores raçudos e comprometidos em detrimento dos talentos existentes (notadamento o Ganso!), como se os jogadores talentosos não pudessem ser comprometidos, o que não vale nem a pena discutir. Esse problema é grave em qualquer situação, mas, se você tem um material humano já limitado, o problema adquire a dimensão que adquiriu: olhar pro banco e chorar, porque não tem alternativa nenhuma;

b) Criou um clima de nervosismo no grupo - Culpa absoluta do treinador isso! Desde 1954 que a Seleção não tinha 02 (dois) jogadores expulsos numa Copa e, não custa nada lembrar, que o Juan não foi expulso por erro do árbitro e o Michel porque foi substituído a tempo... Desde os amistosos eu já tinha comentado com amigos a minha surpresa com o nervosismo da Seleção! Se o grupo estava nervoso ganhando do Zimbábue ou da Tanzânia, caberia ao treinador trabalhor o espírito contrário nos jogadores, mas o Dunga fez exatamente o contrário. Por isso eu não concordo em eleger o Felipe Melo pra "Cristo", porque poucos jogadores ali não flertaram com a expulsão durante a Copa;

c) Mexeu mal no jogo contra a Holanda - Ora, o grupo já era limitado, as opções do banco eram mínimas e, pra completar, o Dunga mexeu ridiculamente! Uma coisa é o sujeito colocar o Gaúcho e ele cagar o pau, porque você realmente espera que ele possa jogar bem... Agora, pensem comigo: qual era o futebol esperado do Gilberto (que, além de velho, nem de lateral joga há anos)? Qual o sentido de colocar o Nilmar no lugar do Fabuloso? Não é que não tenha funcionado, é que, simplesmente, não tinha nada a funcionar!

Dito isto, não podemos esquecer que, apesar de tudo, até os dez minutos do segundo tempo, qualquer um de nós apostaria sem medo na classificação brasileira, vez que a Holanda foi absolutamente dominada no primeiro tempo, tivemos claras chances de ampliar o marcador e parecia uma questão de tempo até que saísse o segundo gol.

Minha avaliação, então é simples: apostou-se num time de raça e comprometimento, acreditando que seria possível controlar sempre o jogo e que a vontade supriria o talento, trazendo as inevitáveis vitórias. Funcionou mais ou menos durante quatro jogos e meio, até que o acaso entrou em cena e o melhor goleiro do mundo entregou um gol, num lance absolutamente simples, que estava, inclusive, coberto por um volante. Aí chegou a hora em que as escolhas pesaram: o time ficou nervosíssimo; as opções do banco eram limitadas e o técnico se valeu mal das poucas opções viáveis (como jogar com o Nilmar aberto, mantendo o Fabuloso centralizado)!

Sem maiores mistérios... Simples assim!!!

A meu ver, portanto, o trabalho da seleção não foi ridículo: ganhamos títulos; nos classificamos sem maiores percalços pra Copa; fizemos uma campanha mediana com valores medianos; e, pelo bem ou pelo mal, vê-se que a Seleção Brasileira realmente resgatou a empatia com a torcida, um ponto que pode ser considerado o de maior dívida da campanha de 2006.

Dentro da minha avaliação, praticamente todos os jogadores renderam o que se poderia esperar... Talvez as surpresas positivas (como o Gilbero Silva) tenham sido até mais contundentes do que as negativas (se considerarmos que Fabuloso e Kaká vinham de contusão)! Sinceramente, ao contrário de 2006, acho que ninguém do grupo se queimou... Provavelmente, você não convocaria em agosto exatamente quem você já não teria convocado em maio!

Por fim, o trabalho também não foi para se exaltar... Cabeça fechada para novidades positivas; uma desnecessária rivalidade com a imprensa; e o conceito de que o talento é inimigo da raça e da dedicação devem ficar pra história como notas negativas a serem lembradas. O novo técnico que vier (benza deus que o Felipão aceite!) terá que entender que o Dunga foi vítima da dialética, ao tentar encontrar uma antítese a tudo o que foi feito em 2006...

Caberá, então, ao novo comandante achar a síntese perfeita, que possa valorizar o talento, reconhecer o comprometimento e, enfim, em 2014, nos brindar com o Hexa, liberando grito que já estará preso há 12 (doze) anos em nossas gargantas...

Carlos Marden